Mau-Olhado |
Escrito por Jayme Lobato |
Ter, 15 de Fevereiro de 2011 13:12 |
Jonas e Maria Alice adquiriram um imóvel e logo se mudaram. Saíram de um apartamento e estavam, agora, numa casa de vila num bairro da zona norte da cidade do Rio de Janeiro. - Jonas! Estou adorando a nossa casa nova. - Eu também, Maria Alice! Fizemos um bom negócio, adquirindo esta casa! - As crianças, meu querido, terão aqui mais liberdade. Poderão brincar também na parte comum da vila. - Isso mesmo! - Precisamos colocar umas plantas na casa. - Amanhã, você terá uma surpresa, Maria Alice. - Amanhã vai demorar muito a chegar, meu bem. Conta logo a surpresa. - Não. Deixa de ser apressada. No dia seguinte, Jonas chega do trabalho trazendo no carro a surpresa que anunciara no dia anterior. - Maria Alice! A surpresa está na mala do carro. E precisamos tirá-la logo de lá, senão poderá morrer. - Você trouxe algum animal para casa, Jonas?! - Que nada! Vá ver. E Maria Alice, apressada, abre a mala do carro. - Jonas! Onde conseguiu essas plantas tão bonitas? - Encomendei-as na casa de flores aqui de perto. - O dólar está lindo! Eu o colocarei na ante-sala. Lá é muito arejado, há muita luz, e ele enfeitará o local. - Faça como quiser, querida! - As outras duas também são muito bonitas. Vou colocá-las na área de recreação, nos fundos. O tempo passa e Maria Alice, cada vez mais, se encanta com o dólar. - Você, realmente, gostou desse dólar, Maria Alice, não é mesmo?! - Gostei muito! - Pelo carinho como você o trata, percebe-se do seu afeto por ele. - Mas veja, Jonas, ele está muito bonito! - Realmente, está lindo, querida! - Estou usando nas plantas os nutrientes que o senhor da casa de plantas me indicou. Estão dando certo. Todas as plantas estão bonitas. - Em especial o dólar! - Devo confessar que estou orgulhosa desse dólar. No sábado, à tarde, batem à porta. Maria Alice atende: - Olá! Boa tarde! - Boa tarde! Chamo-me Ernestina. Sou sua vizinha da casa VI. Vim dar-lhes boas vindas à nossa vila. - Muito prazer, dona Ernestina. Meu nome é Maria Alice. Entre, por favor. - Não! Outra hora. Como já disse, vim somente dar-lhes boas vindas. - Sentimo-nos felizes pelo seu interesse! E dona Ernestina, com a curiosidade que lhe era peculiar, estando a porta aberta, observa o dólar na ante-sala. - Que dólar lindo você tem, Maria Alice! - Ganhei do meu marido. Realmente está muito bonito. - Muito bonito mesmo. Nunca consegui manter um dólar com tanto vigor. Meus parabéns! O seu dólar está realmente exuberante. - Muito obrigada! - Já me vou, Maria Alice. Outra hora conversaremos mais. Dona Ernestina se retira e Maria Alice vai ao encontro de Jonas. - Quem bateu à porta, Maria Alice? - A vizinha da casa VI. Muito gentil. Veio dar-nos as boas vindas. Chama-se Ernestina. - Ainda existe gente educada, nesse mundo, não é mesmo, meu bem? - Ela adorou o meu dólar. Disse-me que nunca conseguiu manter um dólar com tanto vigor como esse meu. - O dólar, pelo visto, é só seu. Você só fala: o meu dólar. - Você me deu, é meu! - Tá certo, querida! - Aliás, hoje é dia de colocar o nutriente recomendado pelo senhor da casa de flores. E Maria Alice pega o material e se conduz para a ante-sala. Ao chegar lá, exclama em voz alta: - Meu Deus! Não pode ser! Jonas vem ao seu encontro. - O que foi que aconteceu, querida?! Que susto você me deu! - Olha só para o dólar! - Que é isso?! Há pouco ele estava tão bonito. O que houve com ele? - Eu também quero saber! - Ao invés de colocar nutriente, você deve ter colocado alguma outra coisa nessa planta, Maria Alice. - Mas, Jonas, eu nem cheguei a colocar o nutriente. Não coloquei nada na planta. - Ah! Então, foi o olho gordo da vizinha que esteve aqui. - Não creio. Ela pareceu-me muito boazinha. - Então me dê outra justificativa! - Sei lá o que aconteceu. Uma planta que até há pouco estava linda, agora está horrorosa. No dia seguinte, pela manhã, o dólar estava realmente morto. - Olha só, Jonas, o dólar morreu mesmo! - Não se aflija, querida, conseguirei outra planta para substituí-lo. E assim foi. Dias depois reinava soberano na frente da casa um grande vaso com uma bonita muda de buganvília vermelha. E ficou combinado que Jonas trataria da nova planta. E lá estava ele molhando-a, quando a vizinha do lado, a dona Jandira, se dirige a ele. - Olá, seu Jonas! Também molho minhas plantas nesse horário! - Dessa buganvília eu é quem vou cuidar. - O senhor benze suas plantas? - Não! Eu não faço isso, não! - Pois eu sou católica e benzo as minha plantas contra o mau-olhado. Eu, se fosse o senhor, benzia essa buganvília. Ela está muito bonita e tem muito olho grande nessa vila. - É mesmo, dona Jandira?! - O senhor ainda é muito novo aqui. Com o tempo, conhecerá as seca-pimenteiras do pedaço! Jonas, após terminar a tarefa, entra e conversa com a esposa sobre o que dissera dona Jandira. - Mas, será que existe mesmo esse tal de mau-olhado, Jonas? - Ontem à noite, enquanto você dormia, busquei reler um trecho que fala desse tema na obra de Hermínio Miranda, denominada Diversidade dos Carismas - 1º volume - capítulo IX - intitulado Mau-olhado. - E o que ele diz? - Ele relata um caso semelhante com o ocorrido com o seu dólar. E Hermínio Miranda é um pesquisador sério, querida! - É mesmo, Jonas?! - Só que, no caso contado por ele, se tratou de um chuchuzeiro. - E o chuchuzeiro morreu?! - Diz ele, jocosamente, que o chuchuzeiro começou a desencarnar na hora, ante os efusivos elogios de uma vizinha! - E como ele explica isso? - Baseando-se nas suas pesquisas e na obra de André Luiz, Evolução em Dois Mundos, capitulo IX, ele julga que o que acontece nesses casos é que a pessoa suga a vitalidade da planta e, por isso, ela morre. - Interessante! Quero ler essa obra. - Aproveita e leia também o volume II. Excelente obra essa, do Hermínio, como as demais de sua autoria. Nesse instante, batem à porta. Maria Alice atende. - Dona Ernestina?! - Olá, Maria Alice! - A senhora está bem? - Muito bem, minha filha! Apesar da idade, estou sempre com muita saúde e disposição, graças a Deus. Não sei o que é doença. - Em que posso servi-la, dona Ernestina? - Passei aqui só para lhe dizer que a sua buganvília está maravilhosa. Nunca havia visto uma tão nova e tão florida! Meus parabéns, Maria Alice! Maria Alice, muito secamente, responde: - Obrigada! No dia seguinte, ao abrir a porta para pegar o jornal na soleira, Jonas não acredita no que vê e chama pela mulher. - Maria Alice, venha rápido! "Desencarnaram" com a nossa buganvília! - Meu Deus! Cadê a nossa florida buganvília!? Nesse instante, dona Jandira saía para comprar o pão. Quando percebeu a situação, em voz alta, ressaltou: - Não falei pro senhor benzer suas plantas, seu Jonas? Tem muito olho gordo nesta vila. Sou católica fervorosa e benzo as minhas. Minutos depois, o casal a sós... - Precisamos estudar muito bem esse assunto, Maria Alice! - Eu também acho! - Vou reler a obra do Hermínio Miranda, como também o capítulo Fluídos, de A Gênese, de Kardec. E não podemos esquecer de Evolução em Dois Mundos, de André Luiz, em que se baseou o Hermínio para melhor compreensão do tema. E os dois, com isto, se habituaram a estudar juntos os temas espíritas, num processo de pesquisa e ajuda mútua. Boletim de Maio/2004 |