Administração Compartilhada |
Escrito por Jayme Lobato |
Qui, 10 de Fevereiro de 2011 15:37 |
Reinaldo, presidente do centro espírita, convocara reunião da diretoria, a pedido dos demais diretores, que se mostravam insatisfeitos com seu modo de administrar a instituição. – Companheiros! A pedidos de vocês, aqui estamos com a intenção de aparar as arestas que estão dificultando o nosso entendimento. E o presidente se justifica: – Ando muito sobrecarregado, meus amigos. No centro, trazem-me todos os tipos de problemas. Ninguém assume nada. Ernesto, o tesoureiro, aproveita o momeno, e pondera: – Não é bem assim, Reinaldo. Você não permite que os outros diretores assumam nada. A administração da nossa casa espírita está muito centralizada em você. – Ora, Ernesto, exerço a minha função de presidente. Procuro não ser omisso. Rita, a vice-presidente, aproveita o momento e assevera: – Acho que o Ernesto tem razão, Reinaldo. Você concentra muito o poder. – Mas, gente, eu sou o presidente do centro. Cumpro minha obrigação. Aparecida, a secretária, entra no assunto: – Você não percebe, Reinaldo, que a centralização do poder na casa espírita prejudica o bom andamento de suas atividades? – Como assim, Aparecida? – Por exemplo: você, muitas vezes, toma uma atitude sem se preocupar se ela terá reflexos sobre outros setores do centro. – E, em algumas oportunidades, essas atitudes, Reinaldo, resultam em conseqüências bem desagradáveis para os dirigentes dessas outras atividades, que nem foram ouvidos – esclarece Ernesto. Neste momento, Rita se pronuncia: – Por isso, acho que a administração compartilhada é o melhor caminho para o centro espírita. – Como ela se processa, Rita? – De princípio, Reinaldo, desaparecem as figuras de presidente e de vice-presidente. – E, nesse caso, quem se responsabilizará pela casa espírita? – Um colegiado, formado pelos diversos diretores do centro. Rita continua esclarecendo: – Nesse sistema, todo assunto de interesse do centro é levado a esse colegiado. E Aparecida intervém: – Pelo que conheço desse sistema administrativo, cada diretor tem sua esfera de ação para pôr em prática, e coordenar o que o colegiado decide. Não é isso, Rita? – É isso mesmo. Os assuntos levados ao colegiado são discutidos e decididos com a participação de todos que o compõem. Todos se manifestam e votam. Reinaldo, então, questiona: – Mas, a figura de presidente é importante na casa espírita, não acham? – Dá prestígio. Dá poder, não é, Reinaldo?! – acrescenta Ernesto. - Não é por aí, Ernesto! Dá é muito trabalho e aborrecimento. – Mas, presidente, essa forma administrativa, proposta pela Rita, resolve essa questão. Aparecida aproveita o momento e volta a se pronunciar: – É, Reinaldo!... O Ernesto tem razão. Numa administração compartilhada, as decisões são do colegiado e não de um indivíduo. Além disso, com a descentralização do poder, os diretores se vêem na contingência de assumirem responsabilidades e não só os cargos. E Reinaldo questiona: – Nesse processo, a quem responsabilizar por uma decisão equivocada? – Em havendo uma decisão equivocada, o próprio colegiado a corrige, por discussão transparente e objetiva – fala Rita. – Além do mais, Reinaldo, uma decisão do colegiado há que ser assumida por todos, mesmo por aqueles que foram contrários à proposta vencedora – diz Ernesto. – E isso é bom. Os diretores se vêem na obrigação de vestirem a camisa do centro espírita, como um todo, se desejam realmente o seu progresso – esclarece Aparecida. Ernesto, então, toca no ponto nevrálgico da questão: – Mas, para quem gosta de poder, esse tipo de administração incomoda. Não há decisão pessoal. O colegiado é quem decide. Reinaldo volta a questionar: - E quem representará o centro em juízo? - O diretor administrativo – responde Rita. – E quem o representará junto ao movimento espírita? - Um diretor de representação externa ou de integração ao movimento espírita. Aí acaba a figura hegemônica do presidente, muitas vezes autoritária e prepotente - explica Rita. Aparecida complementa: – Haveria também um diretor financeiro, um diretor para área doutrinária e outros mais, que possam desenvolver as diversas atividades do centro. - Nesse sistema, um segmento de atividades é que determina a criação de um cargo de diretor. E este responderá pelos resultados desse segmento – fala Ernesto. – Pelo jeito, só eu não apóio a idéia – diz Reinaldo. Ernesto justifica: – Não poderia ser diferente, Reinaldo. Há tanto tempo na presidência da casa! E Ernesto continua: - O cargo de presidente já se incorporou nas suas atitudes, nos seus hábitos, na sua personalidade. - O poder inebria, fascina, meu amigo! Felizes os que têm consciência disso e que percebem que podem perdê-lo a qualquer instante – realça Aparecida. Ernesto, então, fala de sua decepção: – Quanto aceitei seu convite para compor a diretoria, nessa nova etapa, imaginei que pudesse colaborar mais efetivamente. Enganei-me, contudo! - Eu também estou insatisfeita na diretoria, Reinaldo. Não participo como gostaria – registra Rita. – É... presidente! Somos, então, três insatisfeitos. Estou cansada de ouvir o pessoal do centro dizer que fomos escolhidos para a diretoria por sermos manipuláveis, massa de manobra – diz Aparecida, justificando sua insatisfação. – E o pessoal tem razão, Reinaldo. Após cinco meses na diretoria, percebo que você nos escolheu pensando que poderia nos manobrar, segundo seus interesses. – Que é isso, Ernesto! Eu os escolhi porque os considero pessoas sérias e capazes. – Só que não nos permite mostrar nossa capacidade. Você decide tudo – arremata Rita. E Reinaldo vê-se numa situação difícil, pois habituara-se na direção da casa espírita e não conseguia imaginar-se fora dela. Foi quando percebeu o quanto o poder era importante para ele. – Confesso-lhes, companheiros, que, só agora, diante dessa conversa, estou conseguindo tomar consciência do fascínio do poder. Não consigo me ver fora da presidência do centro. – Que bom, Reinaldo, você ter-se conscientizado disso. Dá-nos grande esperança de mudança – se alegra Rita. – Enquanto muitos se acham fascinados pelo poder e ainda se comprazem com isso, você reconhece, humildemente, que está sob seu fascínio. Isso é muito bom! – exclama Ernesto. – Por essa, francamente, eu não esperava – fala Aparecida, contente. O Reinaldo capitulou. Graças a Deus! – Podem crer, companheiros, está sendo um golpe muito doído no meu orgulho. Mas, como sempre anunciei que o meu comprometimento é com a doutrina, convocarei uma Assembléia Geral para discutirmos uma nova proposta administrativa para o nosso centro espírita. E a casa espírita tomou novo rumo. A democracia teve assento na condução do centro e, pelas modificações iniciais, já se podia prever uma nova fase de progresso para a instituição. Boletim de Setembro/2006 |
Última atualização em Qui, 12 de Maio de 2011 15:04 |